NOVA YORK - A animação O Rei Leão ainda bombava nas bilheterias quando a diretora Julie Taymor foi convidada pela própria Disney para adaptar a história para a Broadway. Era 1996 e Julie, com uma sólida carreira no teatro, chegou para a reunião com Tom Schumacher, que estava assumindo a recém-criada divisão de teatro da companhia, com um discurso pronto: "Não quero fazer um musical ao estilo Disney, em que o segredo da fantasia não pode ser revelado", disparou ela. "Quero que a plateia veja o ator manipulando o boneco e crie sua própria fantasia." Para sua surpresa, era exatamente isso que Schumacher pretendia, um produto com o selo Disney que não se parecesse... com um produto da marca Disney.
O restante da história já se tornou lenda na Broadway: O Rei
Leão estreou em 1997 e, em cartaz até hoje, logo se tornou um estrondoso
sucesso, faturando cerca de US$ 4,8 bilhões e batendo nas bilheterias um super
peso pesado, O Fantasma da Ópera, que está há muito mais tempo na estrada -
estreou em 1986. É tal ousadia criativa e financeira que foi apresentada ontem
para a imprensa, no Teatro Abril, onde Julie, Schumacher e mais o staff da
Disney internacional e o da Time For Fun contaram como será a versão brasileira
de O Rei Leão, com estreia marcada para 7 de março de 2013.
Será a maior produção musical já realizada no Brasil, com
participação de atores estrangeiros: do total de 57, oito serão sul-africanos,
pois o espetáculo possui diversas músicas no idioma zulu. De quebra, canções
traduzidas por Gilberto Gil. A história é fiel à trama da animação e conta a
trajetória de Simba, pequeno leãozinho filho de Mufasa, que governa a floresta.
O nascimento do jovem desperta a ira de Scar, irmão do rei, pois diminuem suas
chances de assumir a coroa. Assim, bem ao estilo Hamlet, Scar mata Mufasa e
acusa Simba de permitir a morte do pai. O rapaz é obrigado a fugir do reino e
amadurece a distância, até chegar o momento de voltar e retomar o poder.
"O desafio era, a partir de um filme muito popular,
manter sua essência e transformá-lo em uma montagem teatral", comenta
Julie, que utilizou sua experiência pessoal (morou muitos anos em países do
Oriente) para descobrir o fio da meada: o musical necessitava preservar o tom
africano da história sem que a tecnologia fosse abusiva, embora necessária.
Assim, em seu primeiro "confronto" com os
dirigentes da Disney, ela fez questão de sustentar a ideia de que todo o mecanismo
de manipulação dos bonecos fosse visível pela plateia. Mais: os próprios
protagonistas não esconderiam o rosto, ainda que carregassem máscaras no alto
da cabeça. "Poderia parecer algo ousado em uma produção da Disney, que
sempre preservou a construção da fantasia", comenta Tom Schumacher.
"Mas era exatamente isso que nos interessava, um produto que mantivesse
intacta a magia a partir de novos caminhos."
Com a rara oportunidade de correr riscos em uma produção
comercial, sem que nenhum dos lados saísse perdendo, Julie assumiu a criação
dos figurinos, das máscaras e dos objetos manipuláveis. E, para cada
personagem, desenvolveu linhas e traços que o identificassem diante do público.
"Era para ser África e Disney, sem que nenhum saísse perdendo."
Fonte: Estadão
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